domingo, 15 de março de 2009

Editorial HP8 dez2000

Editorial

 

É com alegria que saúdo a publicação de mais um número do boletim "Herdeiros do Porvir", agora em nova fase.

Em sua breve existência, "Herdeiros do Porvir" tem procurado sistematicamente, elevar o nível dos debates acerca dos grandes problemas brasileiros.

Engana-se quem vê nele tão somente uma publicação de propaganda monarquista. Mais do que isso, visa a aprofundar o estudo e a compreensão dos grande problemas nacionais muito além das fórmulas-chavão e dos "slogans" veiculados pela mídia.

Com muita freqüência ouço, de compatriotas meus, a afirmação pessimista e injusta de que o brasileiro não tem interesse pela política.

Nem sempre as circunstâncias me permitem fazer o que de bom grado aqui faço: tomar a defesa do brasileiro.

Na realidade, nosso povo, lúcido, inteligente, com uma facilidade intuitiva para compreender e assimilar imediatamente problemas de alto bordo, não se interessa pela política como ela habitualmente se apresenta, porque percebe que a mesma está desvinculada da realidade mais profunda da vida.

Esse o motivo real do enorme número de abstenções nos últimos pleitos; esse o motivo dos índices elevadíssimos de eleitores que não se recordam dos candidatos que escolheram; esse o motivo do descrédito de tantos partidos políticos e de tantos homens públicos; esse o motivo de recente pesquisa de opinião realizada por um matutino paulista ter apurado que apenas 18% dos brasileiros se consideram satisfeitos com o funcionamento das instituições políticas vigentes no Brasil (cfr. "Folha de S. Paulo", 14/5/2000).

O brasileiro, ainda que de instrução elementar e ainda que de condição social muito modesta, com seu profundo espírito de Fé e seu entranhado bom senso, tem facilidade para relacionar os pequenos fatos do dia-a-dia com grandes temas filosóficos, metafísicos e até religiosos. Longe de se deixar circunscrever pelos estreitos limites da vida privada, o brasileiro facilmente compreende os grandes horizontes universais. Se a política lhe parece tão sem graça, é justamente porque a política que se poderia chamar oficial é desvinculada dessa esfera superior em que, de modo subconsciente mas nem por isso menos real, a alma do brasileiro sem esforço faz freqüentes incursões.

Justamente porque não têm conteúdo ideológico claro, é que os programas partidários são tão desconhecidos da quase totalidade de meus compatriotas. Se o eleitorado brasileiro não tem o mesmo grau de participação política que tem, por exemplo, o de certos povos europeus, não é porque ele não esteja à altura de compreender a política; muito pelo contrário, é a política, tal como se pratica após 110 anos de República, que está muitíssimo abaixo do nível de capacidade cívica do brasileiro.

Estou certo de que, com as bençãos da Divina Providência, "Herdeiros do Porvir", contribuirá para o revigorar dos debates de alto nível em nossa vida pública.

Dom Luiz de Orleans e Bragança

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