sábado, 8 de setembro de 2012

MARIA DA GLÓRIA

Carioca da gema

por Albino Castro

Chega às livrarias brasileiras neste final de inverno o mais celebrado e instigante romance histórico português deste ano, Maria da Glória – A Princesa brasileira que se tornou Rainha de Portugal, da escritora e jornalista Isabel Stiwell, que reconstitui, através da farta documentação epistolar a que teve acesso, a vida de Dona Maria II, soberana portuguesa, de 1834 a 1853, carioca da gema, nascida em 1819 no Palácio de São Cristóvão, bairro imperial do Rio de Janeiro, filha de D. Pedro - que cá é I e lá é IV. O novo trabalho da autora portuguesa foi publicado no primeiro semestre em Lisboa pela Editora Esfera dos Livros, com o título Dona Maria II – Tudo por um Reino, e o lançamento aqui é da Editora Octavo. A obra de 683 páginas, que os franceses qualificariam de um roman fleuve, também pode ser encontrada na Majestatis (www.majestatis.com.br), livraria virtual coordenada pelo monarquista Jean Tamazato. Dona Maria II morreria ainda muito jovem, aos 34 anos, ao dar a luz ao 11º filho. Dois de seus herdeiros chegaram ao trono português, o primogênito, D. Pedro V (1837 – 1861), e D. Luís I (1838 – 1889).

Foram soberanos, simultaneamente, ao Norte e ao Sul do Atlântico, dois dos filhos de D. Pedro com Dona Maria Lepoldina (1797 – 1826), arquiduquesa austríaca filha do Imperador Francisco I de Viena – em Lisboa estava Dona Maria II e no Rio de Janeiro o seu irmão mais jovem, D. Pedro II (1825 – 1891), iluminado imperador brasileiro, ambos bisnetos de  Dona Maria I (1734 – 1816), a Piedosa, e netos de D. João VI (1767 – 1826). A Rainha carioca de Portugal enfrentou grandes obstáculos desde quando deixou o Brasil, em 1828, devido à morte da mãe, e foi estudar por dois anos na Áustria. Residiria também em Londres, onde se tornaria amiga da futura Rainha Vitória (1819 – 1901), e só veria pela primeira vez a paisagem lusitana aos 14 anos, em 1833, quando o seu pai à frente das forças liberais do Porto, juntamente com os aliados açorianos da Ilha Terceira, ainda combatia as tropas leais ao seu tio, o Rei D. Miguel (1802 – 1866) – este havia desistido de ser casar com a sobrinha Maria da Glória, a quem D. Pedro oferecera a mão. D. Miguel, encorajado pela própria mãe, a espanhola Dona Carlota Joaquina, se batia pela Coroa portuguesa, já que ao irmão, por determinação de D. João VI, cabia o trono imperial brasileiro.

O reinado de Dona Maria II teria inicio após a morte do pai, D. Pedro, em 24 de setembro de 1834, às vésperas de completar 36 anos, vítima de tuberculose, nos aposentos no  Palácio Real de Queluz – os restos mortais foram trasladados em 1972 para o Rio de Janeiro, porém, o seu coração continua na Igreja da Lapa, no Porto. Já no ano seguinte a Rainha portuguesa se casaria com o Príncipe alemão Augusto de Lenchtenberg, irmão de sua madrasta, Dona Amélia de Beauharnais, segunda esposa de D. Pedro, entretanto, ela enviuvaria dois meses depois – voltando a se casar em 1836 com o Príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, pai de seus onze filhos. Numa das cartas usadas para a construção da obra literária, a escritora Isabel Stiwell, que também é diretora do diário português Destak, primeiro jornal gratuito de Portugal, encontra um trecho no qual Dona Maria II afirma ser seu dever, apesar de Rainha, atender aos caprichos e desejos do marido e, por isso, teria engravidado tantas vezes. Voltada às obrigações de esposa e de soberana de um Império em crise, após a perda do Brasil, o mais rico e precioso de seus territórios, a Rainha carioca morreria sem por novamente os pés no seu amado Rio de Janeiro de uma infância tropical nos salões e jardins do Palácio de São Cristóvão.           

Publicado no Jornal Portugal em Foco  ( www.portugalemfoco.com.br )  6 de setembro de 2012

      

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